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Mundo virtual: "A gente ainda depende muito da vida real"

 (Foto: Feu/ Divulgação)

Em tempos de apps de paquera, o verdadeiro amor parece estar fora de moda. Desde o começo dos anos 2000, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman escreve sobre a fragilidade das relações atuais. E, pelo menos há 30 anos, o cantor David Bowie nos alerta sobre a falta de credibilidade do amor moderno. Para muitas pessoas, aplicativos como Tinder Grindr são o tiro de misericórdia no coração apaixonado da sociedade. Mas a francesa Marie Cosnard, diretora de tendências do Happn, tem uma visão menos apocalíptica dos romances de hoje em dia. Para ela, é a tecnologia que acompanha os comportamentos sociais, não o contrário.


Marie cita o exemplo de São Paulo, que, entre as 30 cidades nas quais o Happn está presente, é o lugar com maior vocação para acompanhar este tipo de tecnologia. “Definitivamente, São Paulo é a capital mundial do crush”, afirma a diretora. O app francês, que usa geolocalização para mostrar pessoas que se cruzaram e apresentar possíveis parceiros, foi criado em 2014, chegou ao Brasil em abril de 2015 e já conta com 2,5 milhões de brasileiros à procura de um “lance” [coloque aqui a definição mais adequada]. O país já é o principal mercado do aplicativo que tem mais de dez milhões de perfis cadastrados no mundo. Segundo Marie, o entusiasmo paulistano, principalmente, se deve ao fato da cultura sociável do país. “Conta também o paradoxo das grandes cidades, onde existem muitas pessoas que gastam muito tempo nos transportes ou no trabalho e acham difícil conduzir um relacionamento, o app é uma facilidade.”
Além das funcionalidades já conhecidas como a sincronização com o Spotify e oInstagram, o app também oferece agora o recurso See You There ("Te vejo lá", em português), no qual o usuário compartilha o que está a fim de fazer (como ir ao cinema ou jantar).
GALILEU convocou um editor recém solteiro, que odeia escrever em terceira pessoa, para conversar com Marie sobre como os aplicativos de paquera podem mudar a percepção sobre os relacionamentos, de que forma isso banaliza (ou não) o amor e como esta tecnologia pode se relacionar com as causas feministas. No final, compadecida com a solteirice do entrevistador, Marie concedeu a ele um crédito de 100 Charmes (o equivalente a uma “cutucada” do Facebook) para avaliar rigorosamente a superficialidade das relações contemporâneas.
Quando perguntei para meus amigos gays qual app de paquera deveria usar, eles me disseram que se eu quisesse apenas sexo deveria usar o Hornett, mas se quisesse casar deveria optar pelo Happn. Esse estereótipo faz sentido?
Se tivermos que fazer uma caricatura, sim. [Risos.] Mas, na verdade, não julgamos e não estamos tentando ditar nenhum comportamento. Basicamente, queremos dizer que você pode encontrar pessoas com quem cruzou. São pessoas do seu ambiente regular, do trabalho, vizinhos... Por usarmos a geolocalização, são pessoas fáceis de encontrar. Nós linkamos e você faz o que quiser. Afinal, estamos em 2016. A questão é que, por usar a geolocalização, pode ser que você cruze novamente com a pessoa. Isso faz com que o pessoal seja mais resposável ao pensar em ter uma noite de sexo casual com o vizinho, por exemplo.
Quando nos abrimos para uma pessoa, corremos o risco de sermos rejeitados. Mas os apps de paquera prometem reduzir esse risco. Como isso afeta as relações amorosas?
No Happn, temos duas opções: o like, ou seja, se voce gosta de alguém, pode dar um like na pessoa e ela só vai saber se retribuir, assim tem-se o “Crush”. Não existe rejeição, nesse caso. A outra opção é o “Charme”, isto é, se voce quer ser mais proativo, pode usar essa alternativa para se assegurar de que a pessoa vai te ver. É como na vida real: você pode cruzar com uma pessoa durante várias vezes e nunca acontecer nada, ou você pode chegar e dizer um “oi”. Mas sempre me perguntam: “Então, se eu estiver em uma festa e vir uma pessoa, eu devo procurá-la no celular?”. Claro que não! Se você vir alguém em uma festa, você vai lá e fala com ela. Por que ficar online se a pessoa está na sua frente? Os apps são uma pequena ajuda, e, pelo menos no Happn, o foco é a vida real.
Em uma análise feita pelo Happn, as brasileiras ficaram no topo do ranking de mulheres da América Latina que mais enviam os Charmes. Acha que podemos relacionar isso a certas causas feministas?
Existe esse problema de as pessoas mais conservadoras acharem que não é natural uma mulher tomar a iniciativa. Mas acho que isso, na verdade, é uma questão comum a todos, digo a questão de sair do seu círculo social e ter um lugar reservado para fazer coisas que você quer, sem estar sob o olhar de conhecidos. Isso empodera não só as mulheres, mas qualquer pessoa. Hoje em dia as mulheres não precisam mais ter vergonha de nada e os apps acabam se tornando uma ajuda.
Alguns especialistas consideram que pessoas que ficam muito tempo online acabam criando uma persona virtual mais crítica e sexualizada. Isso pode trazer ansiedade, depressão e crises de pânico quando confrontado com a vida real. No caso dos apps de paquera, quão longe podemos ir?
Acho que a geocalização é uma ferramenta importante contra esse tipo de problema psicológico. É claro que as pessoas podem manter uma relação virtual por anos, sem nem se encontrarem. Mas no Happn isso não acontece, porque as pessoas vivem próximas. Não existe razão para não se encontrar. Isso é um incentivo natural a ser você mesmo, já que, se você estiver interpretando um personagem, nunca vai se encontrar a pessoa. De qualquer forma, isso da ansiedade moderna da era digital é um problema de todas as redes sociais. O que eu recomendo é: seja você mesmo, porque se alguém se apaixonar por você na rua e quiser te encontrar de novo, você terá que ser reconhecível.
A escritora Nancy Jo Sales escreveu que a cultura da pegação — que não é uma coisa nada nova — colidiu com os apps de paquera como um meteoro, destruindo todos os rituais de flerte. Você concorda? Acha que ainda temos tempo para o flerte?
Sim. E acho que ela está errada, de certa forma. Hoje estamos mais abertos, nossa mentalidade mudou, não temos medo de dizer que transamos com alguém na semana passada, mas não queremos mais nada com essa pessoa. Acho que 20 anos atrás as pessoas não falariam isso abertamente, ou era uma coisa mais reservada aos homens — voltando àquela questão sobre feminismo. Então, acho que o flerte é o mesmo, o que acontece é que os apps tornam isso mais fácil. A gente ainda depende muito da vida real, ainda dependemos daquelas pequenas chamas que só se acendem quando você vê a pessoa cara a cara.
Nancy Jo Sales também escreveu que o ato de escolher produtos hoje pode ser comparado ao ato de escolher um parceiro sexual. Você acha que estamos escolhendo parceiros como escolhemos coisas no mercado?
Não. Existe um estudo da Univeridade San Diego que diz que os millenials estão fazendo menos sexo do que as gerações anteriores. O que acontece é que hoje falamos de sexo casual de forma mais aberta do que antes, o que não quer dizer que estejamos fazendo mais sexo do que antes.
Fonte: Jean Twenge, Departamento de Psicologia da Universidade San Diego (Foto: Feu)Um estudo da Universidade de Chigado, encomendado pelo site e-Harmony, afirmou que relações que começaram online, entre 2005 e 2012, tem uma taxa de término menor (6%) do que os relacionamentos que começam offline (7,6%). Por que você você acha que isso acontece?
Acho que isso é um bom sinal. [Risos]. Mas, na verdade, pessoalmente, dou muita importância à vida real. Então, não gosto muito destes resultados, porque ele compara as duas situações como se uma fosse melhor do que a outra. E acho que talvez os números estejam até errados, porque, com certeza já tivemos mais relacionamentos que começaram de forma offline do que online, e os divórcios que acontecem agora dizem respeito a estes relacionamentos. Os que começaram online talvez ainda estejam acontecendo, é uma coisa nova. As pessoas são muito diferentes, não acho que devemos prestar atenção a estes números.
Ao sociólgo Zygmunt Bauman, um entrevistado afirmou que a vantagem dos apps de paquera é que você sempre pode apertar o botão “delete”. Além disso, a palavra “ghosting” — que é o ato de parar de repente de se comunicar com uma pessoa com quem você está ficando — foi eleita uma das palavras do ano de 2015 pelo Colling English Dictionary. Você acha que o problema destas relações superficiais são dos apps de paquera ou das pessoas que os usam?
Não acho que sejam os apps, porque antes da internet e das redes sociais nós também podíamos escolher nunca mais ligar para uma pessoa ou nunca mais vê-las. Era exatamente a mesma coisa de hoje. Ok, não existia um botão para apagar alguém de forma efetiva, mas era exatamente a mesma coisa. Logo, não é uma novidade. A questão é que hoje existem muito mais pontos de conexão para você bloquear.
Muitas pessoas acham que os apps de paquera incentivam essas relações superficiais. Mas Bauman já escreveu sobre isso há 13 anos, em Amor Líquido. Você acha então que os apps talvez só estejam acelerando algo inevitável?
Não acho que os apps estejam incentivando esses comportamentos. A tecnologia é que acompanha o comportamento social. Sempre me perguntam se as pessoas estão traindo mais agora com a ajuda dos apps, e eu sempre respondo que não. Isso é da natureza humana. Se a pessoa é do tipo que trai, ela não precisa de app para trair. Ela acha uma forma, não se trata de tecnologia. 
Bauman também diz que as coisas na pós-modernidade — ou modernidade líquida, como ele chama — não são feitas para durar para sempre. Como o Happn planeja desmentir essa afirmação?
Não sei se vamos viver para sempre, mas definitivamente queremos ser mais do que um buzz. [Risos]. Realmente acreditamos que temos algo diferente. Não estamos tentando ditar nenhum comportamento, ou objetificar pessoas com um simples “sim” ou “não”. O que estamos tentando fazer é recriar encontros da vida real.

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