“Sinto que voltei para a briga”, desabafou um dos trabalhadores na Mercedes-Benz após queimar o telegrama com aviso de demissão recebido há dois dias. Em ato realizado nesta sexta-feira (19/08) em frente à fábrica de São Bernardo, os metalúrgicos demonstraram disposição de manter as atividades contra os cortes anunciados pela empresa no início desta semana.
O funcionário Ricardo Marques da Silva trabalha na montadora há cinco anos na área de eixo e relatou a sensação de alívio ao ver a carta pegando fogo. “Isso demonstra que estamos reagindo e prontos para brigar pelo nosso emprego. É como se todo o problema tivesse sido queimado junto”, disse.
Na avaliação do secretário de Relações Internacionais da Confederação Nacional dos Metalúrgicos, Valter Sanches, o ato de queimar os telegramas simboliza a rejeição da categoria ao comunicado de demissão sumária. “Demitir um trabalhador já é uma decisão extrema, mas da forma que a notícia foi dada é de muita frieza por parte da empresa, por isso não aceitamos e queimamos cada carta”, afirmou.
A quantidade de telegramas queimados é desconhecida, mas a empresa havia informado no início do mês de agosto, por meio de boletim interno, que daria início ao processo de demissões a partir de setembro – quando o prazo de estabilidade pelo PPE (Programa de Proteção ao Emprego) é encerrado – de cerca de 1.870 funcionários. O número se refere à quantidade de trabalhadores que restaram do excedente anunciado pela fábrica de 2,5 mil metalúrgicos, depois de encerrado o PDV (Programa de Demissão Voluntária) com 630 adesões.
O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC convocou todos os trabalhadores a comparecer em assembleia agendada para a próxima segunda-feira (22/08) em frente à entidade sindical, às 10h, seja para manter a mobilização ou para informar algum encaminhamento das negociações junto com a Mercedes-Benz, que se estende na tarde desta sexta-feira (19/08).
MINISTRO DISCUTE DEMISSÕES COM SINDICATO
Também na manhã desta sexta-feira, o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, participa de uma rodada de conversa com os dirigentes do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, inclusive, sobre a realidade enfrentada pelos trabalhadores na Mercedes-Benz. De acordo com o presidente da entidade sindical, Rafael Marques, o objetivo do encontro é solicitar o apoio do Ministério na busca de soluções que possam ajudar a reverter as demissões anunciadas pela montadora.
“O setor automotivo como um todo vive uma crise muito forte e com certeza há medidas que o governo pode adotar para interferir de forma positiva nesse cenário. A situação na Mercedes é emergencial e vamos solicitar apoio para as negociações com a fábrica”, afirmou o dirigente.
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