SÃO PAULO - A Mercedes-Benz suspendeu o processo de demissão que vinha promovendo na fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, que poderia atingir até 2 mil trabalhadores.
Em proposta acertada com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC em reunião na noite de ontem, e aprovada nesta manhã em assembleia dos trabalhadores, ficou acertado que a montadora abrirá um Programa de Demissão Voluntária (PDV), com meta de obter 1,4 mil adesões.
A empresa informa que, para atrair adesões, vai pagar valor fixo de R$ 100 mil, independentemente do tempo de casa e da idade do colaborador aos inscritos no PDV.
Atingida a meta, segundo o sindicato, a fábrica compromete-se a gerenciar o restante do excedente utilizando mecanismos como lay-off. A empresa também se comprometeu a dar estabilidade aos funcionários até dezembro de 2017.
A fábrica do ABC emprega cerca de 9 mil trabalhadores e estava com a produção suspensa desde o dia 15, quando a Mercedes deu licença remunerada à maioria dos funcionários e iniciou demissões por telegramas.
Desde então, os trabalhadores vinham realizando manifestações e o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, disse que avaliaria a possibilidade de amplia a participação do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) no Programa de Proteção ao Emprego (PPE).
ABC MAIOR
ABC MAIOR
De acordo com a proposta, os trabalhadores que aderirem ao plano recebem o montante – independentemente de categoria (horista ou mensalista), tempo de casa ou idade –, além das verbas rescisórias e seis meses de convênio médico. O vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Aroaldo Oliveira da Silva, considerou a proposta mais vantajosa em relação aos PDVs anteriores.
“Nos últimos planos abertos, a empresa se baseava nas pessoas que tinham muito tempo de casa e hoje a realidade é outra: cerca de 60% dos trabalhadores tem até 12 anos de fábrica. Antes, quem tinha 10 anos de empresa pegava um valor aproximado de R$ 50 mil e agora tem a oportunidade de pegar o dobro”, indicou o sindicalista.
O período para adesão dos trabalhadores é de uma semana, de 24 a 31 de agosto, com a meta de 1.400 adesões, sendo que a montadora indica possuir 2.670 excedentes. No caso de atingir a meta, os funcionários considerados excedentes que permanecerem na fábrica – ou seja, 1.270 trabalhadores – serão administrados por layoff (suspensão temporária do contrato de trabalho) em esquema rotativo. “Essa rotatividade evita carimbar as pessoas, revezando quem entra e sai do layoff no período que a empresa achar necessário”, apontou Silva.
Além disso, os trabalhadores na fábrica têm garantia de estabilidade do emprego até dezembro de 2017, com novas negociações de renovação do acordo previstas para iniciar em janeiro de 2018.
DECISÃO NA PONTA DO LÁPIS
Por outro lado, caso a meta não seja atingida, a situação dos trabalhadores volta à estaca zero e uma nova resistência deverá ser construída pelos trabalhadores para evitar a ameaça de demissões.
Na avaliação de uma das funcionárias, que preferiu não ser identificada, a decisão de aderir ao plano precisa ser pensada em conjunto com a família. “Vou colocar tudo na ponta do lápis, minhas dívidas e os meus gastos mensais para saber se vale a pena pegar esse pacote, porque no primeiro momento o valor é bem atrativo”, disse.
A Mercedes-Benz informou, por meio de nota, que "tem como principal objetivo a redução de 1.400 colaboradores neste ano para que possa combater a ociosidade e, assim, manter as suas operações enquanto não ocorre a recuperação do mercado brasileiro".
No posicionamento oficial, a montadora acrescentou, ainda, que "no decorrer das negociações com o Sindicato, a empresa reiterou a necessidade de reduzir o excesso de pessoas diante de uma ociosidade permanente nos últimos dois anos, acima de 50%, o que tem comprometido a sua operação no País".
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