Os homens da família Camacho saíram de Mendoza, na Argentina, há três semanas. O clã, formado pelo avô Alfredo, de 84 anos, o pai Gonzalo, de 44, e os netos Facundo e Tomás, de 11 e 7 anos, viajou de motorhome por mais de 3 mil quilômetros. Durante o percurso, os Camacho estacionaram o carro no Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo. Dormiram em acampamentos pela estrada. Esqueceram o cansaço para fortalecer a torcida e, desde o início, tinham como destino final o Maracanã. Foi uma fé cega que os guiou até aqui.
A família Camacho assistiu à semifinal entre Argentina e Holanda na última quarta-feira (9) na Fan Fest, em Copacabana. Todos com a camisa azul e branca. O pai Gonzalo, descontraído, carregava uma caipirinha numa mão e os dois filhos na outra. Ria sozinho com os olhos cheios d'água ao constatar que a Argentina chegaria à final, depois de um jejum de 24 anos. “Nós vingaremos o Brasil. Venceremos a Alemanha pelo que fizeram com vocês”, disse o avô Alfredo, num tom pacifista de surpreender os que gostam de generalizar teorias sobre os hermanos. Eles estarão na praia novamente para ver a final porque não tinham dinheiro para comprar os disputados ingressos da Copa. As crianças nem ligaram. Até domingo osmotorhomes argentinos espalhados pelo Brasil estarão estacionados no Rio de Janeiro. De acordo com o governo de Estado, 100 mil hermanos virão à cidade para acompanhar a final do mundial.
Será fácil identificar os argentinos mesmo que eles não estejam pintados de azul e branco como costumam fazer. São os torcedores mais escandalosos. Gritam o tempo todo. Torcem, sofrem, rezam. Durante a partida entre Argentina e Holanda, aplaudiam cada passe dos jogadores. Cantavam o hino e vaiavam as cobranças de falta do adversário. Era como se estivessem no estádio com areia sob os pés. Para não perderem nenhum minuto de jogo, muitos urinavam em buracos cavados na areia. O horror. Compartilhavam cigarros e cerveja. Nem pensar em sair para comprar. Durante a cobrança dos pênaltis, muitos se sentaram no chão e, de cabeça baixa, começaram a rezar. A cada gol, se abraçavam, beijavam e trocavam socos em comemoração. Repetiam constantemente o grito de guerra “Sou argentino. O sentimento não pode parar”. Muitos tiraram a camisa e rodopiaram no ar. Outros se jogavam na areia, levantavam as mãos ao alto e agradeciam à Deus por cada gol cobrado nos pênaltis contra a Holanda. “Foi impressionante. Eu rezei para o meu pai que está no céu iluminar o time. Ele iluminou”, disse o advogado argentino Romulo Andrés, de 31 anos que, com uma peruca loura comprida, puxava o fotógrafo de ÉPOCA para dançar. Enquanto isso, um amigo presenteava a reportagem com um CD de músicas argentinas. “Como prova da amizade entre brasileiros e argentinos”, disse, ligeiramente alterado pela cerveja.
A fisioterapeuta Marcelina Isern, de 32 anos, está acampada há quase um mês na Lagoa Rodrigo de Freitas, na zona sul carioca. Divide um motorhome com o pai, a mãe, os dois irmãos e mais três amigos. Não assistirão a final no Maracanã por falta de dinheiro mas torcerão e sofrerão como se estivessem nas cadeiras do estádio. “Só vou embora quando a Argentina ganhar a Copa”. Se perder, vai ficar pra sempre? "Não, aí eu vou embora".
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