Jairo Marques com seu Renegade 2017; Jeep passou a recomendar a troca do fluido a partir do modelo 2018.
Bortoluzzi acrescenta que as redes sociais têm muitos relatos como o seu e o defeito não está associado a uma quilometragem específica nem ao tempo de uso. Além disso, destaca, a partir de 2018 a Jeep mudou o plano de manutenção no que se refere ao fluido de arrefecimento, recomendando produto com outra especificação e concentração, além da respectiva troca a cada dois anos - independentemente da quilometragem. Em modelos anteriores, destaca, o manual não traz nenhuma orientação relacionada à troca do fluido. "Os proprietários dos modelos anteriores a 2018 seguem sem qualquer recomendação e reclamando de problemas de corrosão no trocador de calor, já que não possuem ou não foram orientados pelo serviço autorizado durante as revisões, a informação quanto à troca periódica e à nova especificação do fluido de arrefecimento".
Já o contador aposentado Jairo Marques, que reside em Salvador (BA), também afirma ter seguido rigorosamente o plano de manutenções até que seu Renegade 2016/2017 flex apresentou o mesmo problema, no dia 22 de novembro deste ano.
"Reboquei o carro até uma concessionária, mas não deixei o Jeep lá. Conversando com um técnico, fiquei assustado com a previsão de custos para o reparo do câmbio, cujos danos estavam relacionados, segundo fui informado, ao trocador de calor".
Marques diz nunca ter sido alertado nas revisões periódicas sobre necessidade de troca do fluido a cada 24 meses. Por conta do preço proibitivo, e já que seu veículo não está mais coberto pela garantia de fábrica, decidiu repará-lo em uma oficina independente, especializada em transmissões.
"Disseram que não poderiam estender a garantia, então levei em outra oficina e o prejuízo foi de R$ 15 mil", relata. Seu Renegade está com cerca de 53 mil km rodados.
Um grupo no WhatsApp com mais de 200 participantes trata especificamente do defeito envolvendo o câmbio, fornecido pela empresa Aisin, e traz outros relatos semelhantes.
O dono de um Renegade 2017/2017 que prefere não se identificar diz que a pane aconteceu com cerca de 40 mil km e a Jeep aceitou substituir a transmissão, mas foi necessário pagar cerca de R$ 5,5 mil para que o reparo fosse realizado "em cortesia".
Stellantis nega que clientes tenham feito as revisões
Procurada, a Stellantis diz que se responsabiliza pelos reparos de veículos que ainda estejam cobertos por garantia. Além disso, enfatiza que os casos citados neste texto e outros que nossa reportagem encaminhou à companhia não foram precedidos pela realização de todas revisões programadas. A Stellantis também admite que houve alterações no plano de manutenção no que se refere ao fluido de arrefecimento.
Confira a íntegra da nota enviada:
"A Stellantis esclarece que se responsabiliza por inconvenientes que ocorram dentro do período de vigência da garantia contratual. Os veículos mencionados não realizaram o plano de manutenções programadas, conforme previsto no Manual do Proprietário.
A regular utilização do automóvel demanda a realização de manutenções preventivas e/ou corretivas. Nos casos em análise não há qualquer evidência que aponte para uma falha ou um defeito de qualidade nos veículos.
A Stellantis aproveita a oportunidade para informar que alterações em fluidos, peças de desgaste natural e/ou acessórios são processos evolutivos em respeito ao cliente e que podem impactar na periodicidade, no uso e na aplicação dos componentes envolvidos após as suas implementações".
Procon-SP notifica Stellantis sobre eventual recall
Câmbio Aisin de 6 marchas é arrefecido pelo mesmo líquido que resfria o motor nos modelos de Jeep e Fiat.
Órgão de defesa do consumidor vinculado ao governo paulista, o Procon-SP informa que neste ano, até julho, recebeu seis reclamações relacionadas ao defeito no câmbio automático de veículos Jeep e Fiat.
A fundação informou hoje (6) que notificou a Stellantis a prestar esclarecimentos sobre o problema, incluindo a eventual necessidade de realizar um recall - caso haja constatação de risco à saúde ou à segurança dos ocupantes dos veículos. A notificação aconteceu após a publicação desta reportagem.
"A empresa deverá informar quantos atendimentos foram realizados nas concessionárias relacionados ao sistema de arrefecimento ou a problemas de vazamento no radiador, quais desses atendimentos foram efetuados nos modelos em garantia nos anos de 2020 e 2021 e detalhar os atendimentos por Estado, cidade, modelo, ano de fabricação e se houve a troca ou reparo do item avariado", diz nota enviada a UOL Carros com exclusividade.
O Procon-SP também questiona os critérios para a troca do líquido utilizado no sistema de arrefecimento em modelos posteriores e as medidas que irá adotar para atender os consumidores.
A Stellantis, por sua vez, informa que aguarda o recebimento formal da notificação e, "tão logo isso aconteça", prestará os "esclarecimentos necessários" ao órgão.
Guilherme Farid, chefe de gabinete do órgão de defesa do consumidor, diz que a empresa poderá ser multada em até R$ 11 milhões se for constatada negligência.
"Temos relato de um caso, relacionado ao trocador de calor, no qual o veículo teria pegado fogo. Isso já é suficiente para questionar a fabricante sobre a possibilidade de convocar os clientes para a realização dos reparos necessários, sem custo", pontua.
Ele acrescenta que o fim da garantia não exime, necessariamente, a Stellantis de responsabilidade.
"Mesmo que o vício seja verificado após o término da garantia, se não for decorrente de desgaste natural e sim consequência de algum problema de engenharia, projeto ou construção, a empresa continua responsável. Nesse caso, o prazo de garantia passa a ser contado a partir da constatação do defeito pelo consumidor".
Farid orienta os clientes a registrarem a reclamação no Procon
"Assim, poderemos agir para esclarecer as causas do defeito e, se for necessário, cobrar providências".
fonte: Matéria/UOL
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