Porta dos fundos, sucesso merecido: A gente chegou num momento em que tinha um monte de humorista maldito, aquela coisa mala
Até pouco tempo, o carioca João Vicente de Castro, de 30 anos, seria reconhecido apenas como o ex-marido da atriz Cleo Pires e atual namorado da apresentadora Sabrina Sato. Porém, hoje em dia muita gente já o reconhece como um dos sócios e criadores da produtora Porta dos Fundos, ao lado de Fábio Porchat, Gregório Duvivier, Antonio Pedro Tabet e Ian SBF. "Pegar um táxi e ser reconhecido por um trabalho que dez meses atrás não existia é realmente muito doido. Principalmente para mim, que não sou famoso."
Carioca discreto, esta semana, João recebeu a reportagem do UOL no novo endereço da empresa, na zona sul do Rio, onde falou sobre a reviravolta de sua carreira nos últimos meses, mas evitou falar muito sobre sua vida pessoal.
"Me incomoda fazer parte desse mercado que acho muito doido. É muito doido o interesse das pessoas por quem as outras namoram", opinou. Porém, ao se descrever, João deixou escapar o que o uniu à nova namorada. "A gente procura muito a verdade e quer muito – é bem piegas o que vou falar -, o bem das pessoas. O meu foco é fazer a Sabrina feliz. E não quero ser mau com ninguém. É engraçado. A gente amadurece e parece que começa a agir como criança. A gente quer ser legal, quer o bem. O mesmo tempo que você gasta para falar mal de uma pessoa pode gastar para falar bem de outra. Então fale bem de outra", disse.
- Sabrina Sato e João Vicente assumem namoro durante festa em São Paulo
Desacostumado com palco, o único do Porta dos Fundos que não é artista anda meio assustado com o sucesso do coletivo. "Outro dia, estava em um hotel e vi que o cara da mala ficou nervoso. Ele entrou no elevador e falou assim: 'não posso fazer isso, mas preciso te parabenizar pela Porta dos Fundos'. Fiquei chocado. Aquele negócio que a gente pensou está atingindo! Sei que é uma frase arrogante, mas bancarei: 'a Porta dos Fundos faz parte da cultura pop do Brasil hoje em dia'. Se vai durar não sei. O cara no Senado já falou uma frase nossa. Outro dia, a Ivete Sangalo tuitou que não perdia um vídeo nosso. Fora isso, a gente já ouviu gente dizer: 'meu pai tinha depressão e começou a ver a Porta dos Fundos. Hoje em dia a vida dele mudou'", conta ele, empolgado, enquanto almoça China in Box.
João contou que largou tudo para apostar na produtora. Sem formação acadêmica, ele trabalhava como autor e roteirista na Globo, onde ficou por um ano e meio. "Lá conheci o Kibe, que é meu sócio. E ele veio com essa história: 'a gente está pensando em fazer um canal para internet. Tem outro sócio meu, que é o Ian'. Começamos a conversar, aí veio o Fábio, o Gregório e aconteceu. Há dez meses, nos empolgamos muito e começamos a gravar coisas. Um dia o Ian e eu falamos: 'Cara, não é certo a gente ficar num lugar trabalhando para outro, nem certo a gente não dar tanta atenção para o nosso negócio como a gente não está dando. Vamos sair daqui e fazer'. Pedimos demissão e viemos com a cara e a coragem. É uma coisa que nunca tinha feito na vida. Era um cara muito sério nesse aspecto, de ter minha grana, minhas coisas. Esse foi meu primeiro salto", lembrou o carioca, que também já trabalhou em algumas agências de publicidade, entre elas a W/Brasil e a Casa Darwin.
A gente chegou num momento em que tinha um monte de humorista maldito, aquela coisa mala. Porque a gente acha realmente muito mala uma pessoa que só faz piada para sacanear humilhar ou agredir alguém.
Ele analisou o momento em que a Porta dos Fundos chegou ao mercado e concluiu que isso também contribuiu para o sucesso da produtora. "A gente chegou num momento em que tinha um monte de humorista maldito, aquela coisa mala. Porque a gente acha realmente muito mala uma pessoa que só faz piada para sacanear humilhar ou agredir alguém. Qual é o limite do humor? Sei lá qual é o limite do humor. Mas a gente fala de gay bilhões de vezes e nunca recebemos uma crítica. A gente já recebeu, pelo contrário, muitos elogios dos gays. Porque a gente realmente não tem preconceito. A gente realmente não ri disso. A gente não ri de quem bate em veado, de quem tem preconceito. O humor da bichinha, a gente não acha engraçado. Tem gente que faz, tem gente que gosta. A gente não", explicou João, que em uma enquete do site gay "Mix Brasil", lidera o ranking dos humoristas mais gatos do país, com 24% dos votos.
João – que de uns tempos para cá, além de fazer os roteiros, atua nos esquetes – afirmou que o humor da Porta dos Fundos é despretensioso. "É humor de situação, de constrangimento, um humor do dia a dia, de identificação muito forte. É isso: 'já comprei essa lata de Coca-Cola, já fui maltratado'. E tem muitas partes surreais. É muito engraçado porque cada um de nós tem um estilo de humor diferente. Por sermos cinco fica muito rico. Você chega lá e tem um vídeo super curto, minimalista, engraçado para cacete, mas completamente doente, que é o texto do Gregório. Tem os textos mais escatológicos, os mais agressivos, os que mexem com religião, os gays", enumerou.
Para publicar dois esquetes por semana, todas as segundas e quintas-feiras, o coletivo precisa de seriedade e disciplina. "A reunião de pauta é sempre na casa de um de nós, porque fica um clima melhor. A gente ri muito. Mas não é tão engraçado porque temos que resolver um monte de coisas. O Fábio Porchat é responsável por cobrar os textos de todos nós. Tem que ser muito caxias e sério. Todos fazem a parte criativa, todos atuam, todos fazem tudo. Mas tem uma hora que separa. Faço o contato comercial, cuido dos clientes. O Ian SBF dirige e cuida da produção. O Kibe (Antonio Pedro Tabet) é da divulgação, escreve e atua. O Gregório escreve e atua. E o Fábio, além de cobrar os textos, escreve e atua", conta.
Apesar do sucesso da produtora, o carioca revela que o quinteto ainda não lucra muito. "Temos o Google Ads, que dá uma grana, fazemos vídeos para empresas e temos o licenciamento. Vamos começar a fazer camiseta, caneca, caderno. Lucrativo é quando você lucra. Não lucramos nada. Mas não podemos reclamar, já que pagamos nossa estrutura, nossas extravagâncias, quando alugamos lugares legais para filmar. Mesmo assim a gente ainda é bem mão fechada", disse, aos risos.
Para quem ainda não lucra, uma proposta para entrar em alguma grande emissora de televisão seria até sedutora. Para o diretor-geral da TV Globo, Carlos Henrique Schroder, o humor da Porta dos Fundos tem um espaço na Globo, mas para João cada mídia merece um formato e um projeto separado. "Muita gente bota a gente como resistentes da internet. Não somos resistentes. Seria um erro da nossa parte pegar um negócio que a gente pensou na internet para colocar na televisão. Na TV teríamos que fazer uma nova coisa. Teríamos que começar do zero".
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