Protesto em Brasília: Protesto reuniu de donas de casa a microempresária, mas tentativa de partidos de assumir a paternidade política do ato no Estádio Mané Garrincha foi recusada
Protesto reuniu de donas de casa a microempresária, mas tentativa de partidos de assumir a paternidade política do ato no Estádio Mané Garrincha foi recusada. A professora Marilda de Souza Machado, de 54 anos, terminava de lavar a louça do almoço quando viu pela televisão o esquema de segurança da Tropa de Choque da PM de Brasília para isolar a entrada do Estádio Mané Garrincha para conter manifestantes. Foi depois da cena que ela decidiu participar do ato convocado pela internet contra a arena, cujo orçamento final de 1,2 bilhão ficou R$ 696 milhões acima do valor inicial do projeto. “Eu terminei meus afazeres de casa e fim fazer meu afazer de cidadã”, disse. Marilda foi uma das pessoas sem filiação política que não aceitou a tentativa de integrantes do PSOL e do PSTU de apadrinhar o ato. O levantamento das bandeiras desses partidos foi vaiado pelos manifestantes. Um dos líderes do movimento Juntos.org, Rodolfo Mohr, chegou a ensaiar um comando sobre os manifestantes, mas foi ignorado.
A recusa foi ponto importante para que as cerca de 1.000 pessoas ultrapassassem o limite imposto pela polícia, que pretendia manter os manifestantes a cerca de um quilômetro do estádio onde o Brasil derrotou o Japão por 3 a 0 neste domingo (15), pela Copa das Confederações.
O manifesto foi organizado pela internet, principalmente, por integrantes de movimentos estudantis da Universidade de Brasília (UnB). O movimentoArticulação Nacional dos Comitês Populares da Copa, que ateou fogo em pneus em frente ao estádio nessa sexta-feira, também participou – duas integrantes do grupo foram presas na noite de ontem por dano ao patrimônio público e tiveram de pagar pagaram um salário mínimo (R$ 678) como fiança cada uma. Foi por conta da invasão da área protegida pela polícia que a professora do ensino médio, Kátia, de 48, decidiu participar da manifestação quando viu muitos garotos no protesto mostrado pela televisão. “Eu sou professora e vi um monte de meninos aqui que é importante a gente acompanhar para a polícia não bater. “Eu vou fotografar para mostrar para os meus alunos que estudante pode protestar”, disse. “o lanche das escolas públicas aqui do Distrito Federal é biscoito com suco”, afirmou, justificando o motivo de protestar.
As professoras e juntaram ao coro de estudantes como Lucas Miranda, de 18 nos, que estuda ciência política na UnB e protestava contra a PEC 37 – a proposta de emenda à Constituição que promete tirar o poder de investigação dos Ministérios Públicos. “Você imagina quantos deputados vão ficar impunes?”, questiona.
A proposta também foi alvo do protesto da desempregada Kássia Gomes, de 28 anos, que estuda para prestar concurso público. Ela segurava uma folha de papel com a capa da Constituição, na qual incluiu “Não à PEC 37”. “Se o Ministério Público perder o poder de investigar, aí mesmo o Brasil não vai para frente”, argumenta.
Na avaliação da desempregada Kássia, moradora da cidade-satélite Samambaia – um bairro pobre do entorno de Brasília, o que levou as pessoas para as ruas foi o descontentamento reprimido com uma série de falhas do Estado, como saúde, educação, Justiça e inflação. “Eu sai de casa para mostrar que o povo saiu da internet e que agora está na rua”, disse. “Os vinte centavos (do aumento da tarifa de ônibus em São Paulo) foi só a gota d’água.” A inflação foi o ponto alto da entrevista do músico André Pires a uma emissora de televisão japonesa. André estava com a esposa, Débora Viana, protestando também contra o aumento do consumo de crack no País. “Eu sou do rock e vim protestar”, afirmou.
Já a maquiagem social para afastar consumidores de crack da região central de Brasília foi o mote da revolta da estudante de medicina Manuela Chianca, de 21 anos. “Tinha um pedinte no Parque da Cidade chamado Aloísio que sumiu há mais de um mês”, conta.O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, classificou o manifesto como “infantil, com argumentos vazios". Homem de relacionamento do governo Dilma com movimento sociais, Carvalho disse que esperava que a manifestação fosse pacífica.
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