Eu sou muito leal e muito franco. A relação de confiança pressupõe jogar aberto. Confiança só se adquire assim. A escolha dos 11 que iniciam um jogo é uma necessidade da função. Já respeitar a todos é uma escolha pessoal, de moral, de caráter.
Tenho um slide que passo às vezes para os atletas. No centro, coloco a palavra “motivação” e, em volta, outros itens: motivação pessoal, desafios da profissão, reconhecimento da imprensa e da torcida, ostentação, dar à família uma condição de vida melhor. Pergunto qual cada um escolhe. O interessante é que a maioria não escolhe dinheiro. O dinheiro é consequência. Com a equipe vencendo, todos conquistam.
Para implantar o teu jeito, é preciso, no mínimo, três ou quatro meses para os atletas entenderem a forma de trabalhar, como você se comporta num momento difícil, a meta de trabalho. É o tempo até o jogador dizer: “Estou começando a entender o que o homem quer”. E é preciso, no mínimo, um ano de trabalho com início, meio e fim para que o técnico possa ser analisado de forma mais criteriosa.
Dentro do vestiário, quando acaba o jogo, a adrenalina está lá em cima. Se alguém fala alguma coisa ruim, para outro cara dar um estouro é muito fácil… E, mesmo para elogiar, é melhor deixar para falar no outro dia. O silêncio fala muito em vestiário.
Para me sentir campeão, deixa terminar o último jogo. Isso é por causa daquele Brasileiro de 1986 que perdi com o Guarani porque o São Paulo empatou na última bola da prorrogação. E pela experiência de outros. Numa final da Copa dos Campeões, o Manchester United estava perdendo aos 42 do 2º tempo e o Alex Ferguson [técnico do United] já pensava: “Vou perder com dignidade e vou até lá cumprimentar o técnico deles…”. Dali a pouco, o United virou! Por isso, na final da Libertadores eram 46 minutos e o presidente [do Corinthians, Mário Gobbi] chega atrás de mim e diz: “Parabéns!” E eu, sem ver quem era, me viro e falo: “Calma, porra, não somos campeões ainda!”
Alguns atletas são visuais. Preciso mostrar o que quero deles. Outros são sinestésicos. Tenho que mostrar dentro de campo e tocar para que eles possam desenvolver. Outros são auditivos.
A comunicação se dá não quando eu estiver bem para falar, mas quando o outro estiver receptivo a ouvir. Se eu observo que o atleta está chateado em demasia ou puto da cara comigo, não vou falar com ele. Ele não vai absorver. Espero ele entrar no estado normal. Aí ele estará receptivo.
Peguei uma sequência de clubes em baixa para recuperá-los. Aí olhei para trás e disse para mim: “Futebol não se faz assim. Tu não é mágico nem salvador da pátria. Tem que aguardar oportunidade em uma equipe mais estável para desenvolver teu trabalho”. Recusei propostas, fiquei desempregado, com a autoestima lá embaixo. Mas, se eu não cuidar da minha carreira, ninguém vai cuidar.
A vida e o futebol têm um ritmo próprio. Eu não tenho como acelerar as coisas. Elas vêm ao natural, na proporção exata do bom trabalho.
Nem passava na minha cabeça que o “Fala muito!” para o Felipão ia ficar tão marcado na minha trajetória. Mas é simbólico: o que é meu, vou defender, então não venha levar vantagem. Ali no campo, defendo com unhas e dentes meu clube e meu trabalho. Dentro da minha ética, do que entendo ser leal e justo. E o Felipão também estava fazendo isso, do jeito dele.
Tenho um perfil muito inquieto, perfeccionista. É até ruim porque me pressiono muito. Até o ponto de me dizer: “Calma aí, cara, curte um pouquinho a coisa”.
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