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Lepo lepo: Brasileiro inventa tantos neologismos que ameaça a existência da língua portuguesa

 
O brasileiro é antes de tudo um criativo. No pior sentido: ele cria caso, cria escândalo, cria até a palavra “factoide” e cria, como nenhum outro povo, aquilo que os gramáticos chamam de neologismo. A ponto de o próprio idioma português correr perigo de sobreviver à inventividade do brasileiros. Eu sinceramente temo pela venerável língua portuguesa por causa das monstruosidades e barbarismos que introduzem nela a cada minuto. É impossível controlar os usuários da língua. Mas será que não dá para pedir que os artistas parem de fazer besteira em nome dela?
Analisemos o exemplo mais recente de neologismo: o “lepo lepo”. Antes do último carnaval, se você perguntasse o significado do termo, ninguém saberia responder. Mas os trios-elétricos de Salvador o consagraram, martelando no cérebro da patuleia o reggae “Lepo lepo”, da banda soteropolitana Psirico. Hoje quase todo mundo foi obrigado a decorar o refrão da música e a aprender o que a palavra quer dizer: “Eu não tenho carro, não tenho teto/ E se ficar comigo é porque gosta/ Do meu rá rá rá rá rá rá rá o lepo lepo/ É tão gostoso quando eu rá rá rá rá rá rá rá o lepo lepo”. A canção “Lepo lepo” foi o maior sucesso do carnaval de 2014. Tornou-se tão representativa da alma brasileira que vai fazer parte da trilha sonora oficial da Copa do Mundo e figurar entre as faixas do álbum a ser lançado em breve pela Fifa.
O “lepo lepo” se autoexplica. Trata-se de uma qualidade erótica intrínseca a seu detentor. Em inglês, seria traduzido como “mojo”, também ele um neologismo. O duplo sentido da letra do reggae reforça o aspecto de símbolo fálico da palavra reduplicada. O lepo lepo pode ser descrito como aquilo que o pé-rapado hetererossexual sem carro e sem dinheiro possui e que agrada a todas as suas parceiras de acasalamento.
Aqui se esgotaria o assunto. O lepo lepo é mais um exemplo da capacidade infinita que o brasileiro tem de gerar duplo sentido e onomatopeias em sucessos musicais. Já o precederam o “Lek lek”, o “créu”, o “tchan” e tantas outras palavras que entraram guela abaixo do  dicionário. É o que é: uma bobagem. No entanto, o fato de esses vocábulos se qualificarem para ser denominados de neologismos lhes dá uma certa dignidade linguística. Será que o neologismo merece a desonra de incluir o lepo lepo e companhia? Acho que não.
Neologismo é um fenômeno que ocorre em todas as línguas. Trata-se da criação de palavras novas por um falante nativo. Ao dominar o mecanismo da formação de palavras em uma determinada língua, o usuário da língua tem a capacidade de inventar termos que não constam dos dicionários. Todo mundo cria neologismos. Eu, por exemplo, inventei a palavra “imperquível” para substituir a desgastada “imperdível”. Para isso, lancei mão do meu conhecimento inconsciente da derivação parassintética: criei uma palavra que deriva de um radical, mas não a partir da forma básica do verbo “perder”, e sim do imperativo “perca”. O interessante no meu neologismo é que “imperquível” substitui a expressão “não perca”, e isso lhe dá uma força expressiva de ambiguidade. Pelo menos eu acho. A palavra não pegou, mas está aí para quem quiser usá-la. É um neologismo legítimo. Quem inventa um neologismo o faz por sentir que as palavras disponíveis no idioma não são capazes de exprimir um certo sentimento, uma nuance ou uma intensidade substantiva o verbal.
Agora convenhamos: qual a razão da existência e da persistência de palavras como lepo lepo, créu e tchan? Elas só cumprem a função de ocupar o lugar de vocábulos chulos que dizem respeito à sexualidade. Não significam nada nem estão enraizadas nos mecanismos profundos da língua portuguesa. Nesse sentido, o funk “proibidão”, recheado de palavrões, gírias e termos chulos, é muito mais honesto que esses termos. Não há uma definição etimológica possível para “lepo lepo”, muito menos para “lek lek”. São onomatopeias usadas como scats, equivalem ao “rá rá rá” contido na canção “Lepo Lepo”. Não chegam a se qualificar nem mesmo como duplo sentido, pois este precisa considerar o sentido da palavra para duplicá-la com uma espécie de ironia instantânea. Não. Não existe duplo sentido quando não há sentido. Não existe palavra nova quando ela não tem nada a ver com o idioma português nem com qualquer língua falada por seres humanos. Por conseguinte, “lepo lepo”, “lek lek”, “tchan” e outros vocábulos não merecem uma promoção no dicionário, um “apgreide” à condição de substantivos da língua portuguesa. Isso porque são falsos neologismos. Devem ser considerados barbarismos, onomatopeias ou mesmo excrescências do uso cotidiano da linguagem. A criatividade brasileira não ultrapassa em geral o nível rasteiro da onomatopeia.
Aqui entra a questão da tolerância. Os linguistas são tão amigáveis e receptivos que podem incluir essas palavras no léxico do português. E irão fazê-lo, por força das circunstâncias. Linguistas não são moralistas, e sim cientistas da linguagem, eles se limitam a anotar e acrescentar ocorrências no uso. Neste ponto, tendo a concordar com os gramáticos, que são os moralistas e os mantenedores dos padrões de etiqueta da língua, hoje considerados ultrapassados. Os gramáticos diriam que o acréscimo de palavra como “lepo lepo” no léxico colocaria a própria língua em perigo. Seria como instalar um vírus de caos em um sistema organizado. O “lepo lepo” é perigoso porque pode atuar como um câncer e criar metástases que irão arruinar o idioma de Camões, ou, como disse Olavo Bilac, a “última flor do Lácio inculta e bela” (estes são deliciosos chavões, mais dignos que os falsos neologismos). Do jeito que as coisas andam, daqui a pouco o português será reduzido a detritos irreconhecíveis. Vamos torcer para que o lepo lepo desapareça de vez depois da Copa. Temo que isso não ocorra.

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