"Belle Knox": Estudante da Universidade Duke e atriz pornô, "A mesma sociedade que me consome me condena"
Uma das primeiras preocupações dos pais americanos quando os filhos nascem é economizar dinheiro desde já para pagar sua faculdade. Além da mensalidade do curso, é comum ter de arcar com os custos de moradia em outra cidade, já que grande parte dos universitários vai estudar em faculdades longe da casa dos pais. Para ajudar, é comum que os estudantes façam bicos para juntar um dinheiro extra: cuidar de crianças à noite, ajudar na limpeza de restaurantes, ser garçonete de bares.
A história da jovem Miriam Weeks, de 18 anos, de Spokane, Washington, poderia ter sido semelhante a de tantos outros americanos. Exceto pelo fato de ela ter escolhido uma forma mais rápida (e lucrativa) de fazer dinheiro: a pornografia.
De família de classe média baixa, Miriam foi aprovada no curso de Direito da prestigiada Universidade Duke, na Carolina do Norte, nos Estados Unidos. Para pagar a anuidade de US$ 60 mil (o equivalente a R$ 138,5 mil), a caloura decidiu fazer da webcam de seu alojamento sua fonte de renda. Criou um nome artístico: Belle, em alusão à personagem Bela, do filme de desenho animado da Disney "A Bela e a Fera", e Knox, em homenagem à Amanda Knox, jovem americana acusada de matar uma colega de quarto durante um jogo sexual enquanto fazia intercâmbio na Itália. "Amanda Knox sempre me fascinou. Ela parece uma garota muita interessante e inteligente." Belle Knox começou, então, a gravar imagens nuas e enviá-las a sites de pornografia. Por cada vídeo, consegue receber, em média, US$ 1,2 mil (o equivalente a R$ 2,7 mil).
No começo de 2014, após o recesso de final de ano, Belle foi descoberta por um colega de classe. Percebeu que estaria em apuros quando recebeu uma solicitação de amizade do garoto em seu perfil de "Belle Knox", e não no de Miriam. "Naquela hora, meu coração parou. Morri de medo". O garoto então prometeu que guardaria segredo. Semanas depois, começou a chantageá-la. Belle não cedeu. De troco, ele revelou sua verdadeira "identidade" a todo o campus. Choveram críticas e xingamentos contra Belle, dizendo que ela era uma vergonha para a Universidade Duke. Seus amigos também se afastaram. Ela e seus familiares chegaram a receber até ameaças de morte. Na internet, surgiram campanhas nas redes sociais pedindo que fosse expulsa da faculdade. "Diziam que meu nariz era maior que meus seios e que eu merecia ser estuprada."
Belle não se intimidou e decidiu ir a público contar sua história. Deu entrevista a um site de notícias sobre a vida no campus da universidade e escreveu um artigo no blog XOJane.com, explicando suas motivações. A repercussão foi tamanha, que o jornalista Piers Morgan, da rede americana de televisão CNN, a convidou para conversar ao vivo com ele. Com voz delicada, aparência frágil e infantil, ela disse que não tem vergonha de seu "bico". "Nós somos muito reprimidas em nossa sociedade. Em casa, dizem que não devemos exibir nosso corpo, fazer sexo." (...) "Desde os cinco anos, minha mãe dizia que se eu um dia me masturbasse, minha vagina cairia. E eu acreditava naquilo." (...) E quer saber? Ter autonomia sexual é algo incrivelmente libertador". Ao jornalista, ela também disse que acredita que a maioria daqueles que a criticam são os mesmos que entram na internet para assistir a suas perfomances. "É muita hipocrisia. A sociedade que me consome me condena", ela disse.
Determinada a seguir a faculdade até o fim, Belle Knox diz que não teme que o escândalo atrapalhe sua carreira (cuja área de atuação também não foi revelada). "Eu é que não vou querer trabalhar para uma empresa que recrimine a sexualidade feminina". "Por que uma mulher não pode ser, ao mesmo tempo, bonita, inteligente e gostar de fazer sexo?" Belle, que está no primeiro ano da faculdade, não pretende abandonar sua lucrativa fonte de renda. Pensa também, no futuro, em se tornar ativista em defesa das estrelas pornô. "Sei que a partir de agora minha vida nunca mais será a mesma. Pelo menos estou lutando em defesa de outras profissionais da pornografia que passam pelas mesmas humilhações que eu, todos os dias."
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