Uma das amigas que a artista Sandra Martinelli pintou, inspirada em calendários de borracharia
"O intuito da folhinha de borracharia é fazer bater punheta. Já a minha é feita com moças que têm uma sensualidade própria que não vai pegar todos os borracheiros, não. Cada uma tem sua beleza própria", afirma a artista plástica paulista Sandra Martinelli, 48, sobre suas mais recentes obras.
"Borracharia Chique" é uma série de 13 quadros que estarão expostos desta terça até 12 de setembro na galeria Mônica Filgueiras, nos Jardins. Como entrediz o nome, são obras calcadas em óleo. Mas não o que se troca em oficina mecânica, e sim a base da tinta que usou para reler esse universo de garotas nuas no chão do banheiro ou deitadas em pneus. Só que, na seleção dela, as modelos têm de 45 a 60 anos e ostentam nudez sem uma pincelada de Photoshop em telas de 1,1m por 1,45m.
Os traços realistas foram comparados aos do alemão Lucian Freud, em exposição no Masp. "Acho uma lisonja. Respeito o que as pessoas são. E são maravilhosas. Foram lindas, corpos que me ajudaram muito nos últimos tempos."
A miss julho do 'calendário' de 13 quadros de Martinelli, que estarão em exibição de 3 a 12 de semembro na galeria Mônica Filgueiras, nos Jardins
Isso porque as modelos eram, inicialmente, amigas que ajudavam Sandra, que passou meses praticamente imóvel, por conta de problemas de saúde. A cada dia, uma miss a ajudava com tarefas cotidianas.
"Uma lavava o meu cabelo, outra fazia a comida." A série, que ela tinha começado a fazer pouco antes, cresceu enquanto se encantava com as amigas e recobrava movimentos.
"Uma lavava o meu cabelo, outra fazia a comida." A série, que ela tinha começado a fazer pouco antes, cresceu enquanto se encantava com as amigas e recobrava movimentos.
Com os braços amarrados até o cotovelo, pintou as telas das misses janeiro e fevereiro -foram dez meses para produzir um calendário com 12 meses mais uma
pintura de capa.
A garota da capa do calendário "Borracharia Chique", que foi pintado enquanto a artista plástica cuidava de problemas de saúde que a deixaram imobilizada
Ela não precisou visitar nenhum borracheiro para conceber a série. "Todo mundo tem seu calendário na cabeça, a gente vê tantos pela vida que fica uma coisa fotografada no inconsciente. Tem sua beleza."
Lucila Meirelles, 60, videoartista e miss novembro, se diz "muito orgulhosa". Tanto do trabalho da amiga quanto da sua figura no retrato, deitada entre pneus. "Gostei de tudo. Luz, cores, minha sensibilidade capturada ali. Saiu do padrão tirânico que beleza, que é tido como a menina novinha e magrinha."
Posar para Martinelli envolveu ficar uma hora deitada na casa da artista, enquanto era esboçada na tela e fotografada -Sandra começou nas artes como fotógrafa.
"Tem uma coisa de ângulo, vendo as mulheres de cima e nunca esticadas, que acredito que tenha vindo da fotografia. Acho que, se eu fosse fazer um calendário mesmo, seria nesse formato", diz a artista, que nem estreou a série feminina e já produz agora uma de garotos. "Tem um monte de gente esperando para posar para
mim!"
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