Se você gosta de automobilismo ou, no mínimo, de dirigir, você certamente pensou, mesmo se por um micro instante, em empunhar um volante de uma Ferrari. Não sou louco por carros e conheço pouco de mecânica e de motores, mas, quando soube que poderia pilotar uma Ferrari, não vacilei.
Graças a uma ideia criativa da empresa norte-americana World Class Driving, qualquer motorista que estiver em Las Vegas pode passar por essa experiência singular. Basta escolher um dos dois passeios: o “Exótico”, que inclui Ferrari, Lamborghini, Jaguar ou Bentley, e o “Músculo”, dos carros potentes, barulhentos e domésticos (norte-americanos) como Shelby, Corvette e Challenger.
Embora em algum momento de minha vida eu tenha tido uma carteira de habilitação norte-americana, hoje ela está vencida. Mas a empresa aceita a habilitação brasileira. Um seguro adicional é recomendável: ninguém quer participar do conserto de um carro que vale 300 mil dólares.
Levi Morrison, um dos gerentes de operação, explica o trajeto. “Chegaremos até a Área de Conservação do Cânion Red Rock, uma das reservas do Estado de Nevada”, afirma. Depois das instruções de segurança, Levi leva-nos até os carros, avisando que a velocidade máxima é de 65 Mph (milhas por hora), o equivalente a 105 km/h. Cruzo os dedos ao responder que, sim, estou de acordo.
Três carros serão dirigidos por clientes e dois instrutores abrirão e fecharão a fila. “Manteremos contato constante com você pelo rádio”, diz Levi. “Mas, lembre-se, você estará sozinho no veículo.”
Estacionados a nossa espera estão um Mustang Shelby GT500, um Jaguar XKR-S e uma Ferrari 458 Italia. “Temos três Ferraris e escolhemos uma 458 vermelha para você”, afirma Levi. “Além da Ferrari, você terá a oportunidade de dirigir outros dois ou três veículos. Sugiro que você use a Ferrari, que parece ser sua preferida, na segunda ou na terceira etapa, já dentro da reserva.”
Entro no Jaguar azul para começar. Dirigir uma Ferrari no perímetro urbano de Las Vegas parece ser um total desperdício. Vinte minutos mais tarde chegamos na entrada do parque. É a hora de fotografar os carros junto à paisagem deslumbrante da reserva.
Aproveito a parada para trocar de carro e entrar na Ferrari. Enfim, chegou a hora! O instrutor explica o painel de controle e os mecanismos dos faróis, dos sinalizadores de direção e dos limpadores de para-brisa (mesmo se faz um sol de 40º C e o céu está sem nuvens).
Giro a ignição e ouço o rugido dos oito cilindros. Um som grave, sereno, quase solene. Dou uma pisadinha no acelerador e a reação é imediata. O monstro acorda: o combustível é injetado nas veias do motor de 562 cavalos, tudo é controlado por um computador. O ronco aumenta, é bem mais impressionante. Quase dá medo: retiro o pé, intimidado. O carro continua imóvel.
Retomo controle da situação, agora foco na transmissão. A Ferrari 458 possui sete marchas automáticas, mas o piloto tem a opção de usá-las manualmente, podendo esticar qualquer uma delas. O câmbio é realizado na mão, sem embreagem. Coloco a primeira marcha e acelero de leve. O carro se move alguns metros. Estou pronto para a largada.
O instrutor entra na Corvette negra. Sou o segundo da fila, os outros carros estão atrás. Ele faz sinal com a mão para seguí-lo. Nas orientações de segurança, jurei que não ultrapassaria o instrutor. A Corvette chega à velocidade de 65 Mph, velocidade de cruzeiro. O instrutor tem uma imensa reta pela frente, sem carros em nenhuma direção, e pisa um pouco mais firme no acelerador. Minha reação é quase imediata. Se o instrutor passou do limite, eu também posso. O velocímetro digital passa rápido pela casa dos 70 e dos 80, para atingir 98 Mph (156 km/h)! Mas o carro do instrutor está bem perto agora e preciso diminuir a velocidade. O resto do passeio continua na velocidade permitida até o final da segunda etapa.
Não faço questão de dirigir os outros veículos e continuo no volante da Ferrari para a terceira etapa. Terei outros 15 ou 20 minutos de brincadeira. Já me acostumei com a passagem de marchas manuais no volante e, se tiver oportunidade, vou acelerar o máximo que puder. É evidente que, em uma estrada de apenas duas pistas, em um parque cujo limite de velocidade é 80 km/h, jamais chegarei à velocidade máxima de 330 km/h da Ferrari.
Mais uma vez, o instrutor espera que a estrada esteja livre e dá aquela acelerada tão esperada por mim, liberando o espaço entre a Corvette e a Ferrari. Desta vez, não reajo de imediato: espero que ele desapareça em uma curva e que a distância entre os dois carros fique ainda maior. E aí, sim, passo a 5ª marcha, a 6ª e, finalmente, a 7ª marcha. O carro dispara, o velocímetro passa das 100 Mph. Quero alcançar 110 Mph... Consigo. Acelero um pouco mais e atinjo a marca dos 112 Mph!
Mas o carro negro do instrutor volta a estar bem perto e alivio o motor. Durante alguns minutos, voei pelo vale Red Rock, atingindo 180 km/h! Valeu!
De volta à sede da World Class Driving converso com Darren Strahl, diretor de operações. Ele recebe os brasileiros com sorrisos tropicais. “Depois dos norte-americanos, canadenses e australianos, os brasileiros são nossos melhores clientes”, afirma Darren. “Vocês têm uma verdadeira paixão pela Ferrari!”
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